Essa receita vem de longe, não sei bem de onde. Chegou aqui com a minha avó francesa, mas não sei se vem de lá. Pode ser, tem batatas, repolho, um pouquinho de carne (francês não faz churrasco), um ou outro pedaço de embutido. Mas receitas são folhas ao vento rabiscadas entre vizinhas, são palavras que voam, mudam de casa, transformam-se e transformam as mesas e as memórias por onde passam.
Então, não sei bem de onde veio, mas sempre imaginei uma parente distante, num campo florido da França, de vestido e avental, fazendo o jantar com um repolho colhido na horta, uns pedacinhos de linguiça que ficaram guardados, o cesto de batatas no chão, um restinho de uma carne qualquer. Uma panela fumegante no fogão a lenha, vapor de sucos perfumados se misturando, a batata se encharcando de prazer e delícia. Uma mesa de madeira, meia-luz, um monte de filhos.
Repolho com batata é comida de sobrevivência, ingredientes que alimentaram países em guerra e gerações de estômagos famintos. Um repolho e seis batatas, comida de mãe que abraça por dentro, que diz que tudo vai ficar bem, meu amor, panela que sempre alimenta mais um.
Aqui, virou comida de domingo. Não que seja pomposa, elegante, extravagante, nada disso, mas porque chama todo mundo para o aconchego da mesa e da mãe. Comida que dá fome e saudade. Comida que, no meio das camadas, tem repolho e amor que não acabam mais.
receita: repolho camponês, receita de família