Lasanha é um prato poderoso, de grandiosidade bíblica, potencial de saciedade faraônico e calorias dinossáuricas. É uma mistura perfeita de camadas de delícia divina com a casquinha gratinada do purgatório separando o pobre ser humano do deleite celestial. Um prato para comer e rezar com adoração e culpa.
Fazer uma lasanha é um trabalho digno de Jó, e deve ser executado sem trapaças: Deus está vendo. Comprar os muitos ingredientes, preparar os muitos molhos, usar muitas e grandes panelas. A carne pode ser moída ou desfiada, mas deve estar cheia de temperos e mergulhada numa panela de molho vermelho de tomates de verdade. O molho branco só tem serventia se for liso e imaculado, e o queijo deve ser fatiado na finura da hóstia. A massa tem que ser batizada em água fervente (as massas q não precisam de cozimento não são de Deus), e queimar um pouco os dedos faz parte do sofrimento necessário à iluminação.
Lasanha e igreja são melhores no domingo, com família e roupa bonita. E se tiver vinho, a comilança se transforma em comunhão, tamanho é o enlevo que o corpo e a alma alcançam.
Lasanha na mesa e vinho no copo são garantia de um almoço dominical feliz. Muito queijo derretido e molhos por todos os lados, talvez uma saladinha de agrião com alho para amenizar. Só amenizar, porque nessa hora o equilíbrio passa longe e não é sequer desejável, já que o pecado será expiado. Ah, sim.
A pia de louça suja que espreita é uma visão pós-apocalíptica: pelo menos três panelas lambuzadas, uma fôrma cheia de cascas e restos endurecidos, seis pratos grudentos e muitos talheres de cozinhar, servir e comer. Fora os cálices sagrados de vinho.
Lasanha nas alturas! Tende piedade de nós.