Hoje vai ter salada. Aqui, todo dia tem salada, desde que eu me conheço por gente. Na minha casa sempre teve saladão em todas as refeições. Saladeira gigante na mesa, super bem temperada. A gente até brigava pelo talinho da alface, ou pelo último rabanete. Eu estranhava muito quando ia almoçar na casa de alguém e chegava na mesa aquele prato triste com quatro folhas secas de alface embaixo de algumas rodelas de tomate, com os temperos separados em garrafinhas ao lado do saleiro entupido. É claro que ninguém gostava de salada.
Salada boa não pode ser temperada no prato, tem que sair da saladeira já misturada, mexida, molhada, envolta em sabores que se completam lindamente. Dizem que para se temperar uma boa salada são necessárias quatro pessoas: um perdulário para colocar o azeite, um avarento para o vinagre, um sábio para o sal e um louco para mexer. E a receita é essa mesma: azeite, vinagre (ou limão) e sal são o tempero básico. Eu também coloco um picante, que pode ser um dente de alho cru espremido na hora, pimenta ou mostarda. Ou tudo. E se estou com vontade, junto ainda algum doce, como mel ou xarope de romã. As possibilidades são infinitas, mas o básico é muito simples. E fica maravilhoso, desde que na proporção certa e com bons ingredientes. A qualidade do azeite, por exemplo, é fundamental: tem que ser extra-virgem, ou nada feito.
Puro, casto e virginal: é assim que o azeite tem que ser. Azeite para casar. Embora esse conceito opressor esteja sendo abolido dos contextos matrimoniais (ainda bem!), no caso do azeite, ele é incontestável. O bom azeite de família tem que ser mais do que virgem: tem q ser extra virgem, ter pureza de sobra e nunca ter vivido momentos ardentes. O azeite extra virgem é prensado a frio, o que impede sua oxidação. Outros óleos vegetais comuns são extraídos em processos que envolvem alta temperatura e pressão, além da adição de solventes químicos. São óleos oxidados e com resíduos químicos que, além de não apresentarem os benefícios dos óleos vegetais, podem aumentar a propensão a reações inflamatórias, envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Sobretudo quando usado frio, em saladas, ou adicionado como finalização de pratos, o azeite extra-virgem pode ser um grande aliado da saúde e do sabor. O custo é mais alto que os óleos comuns, mas pense nele como um investimento, porque o casamento vale a pena, e é para a vida toda. Além disso, os itens mais caros da salada duram bastante: um vidro de azeite e um potinho de mostarda dijon dão conta de muitas saladeiras felizes e coloridas.
Aliás, dominar a arte de fazer uma boa salada faz bem para o corpo e para o bolso: com ingredientes baratos, sobras, restinhos e um pouco de criatividade, a refeição está garantida. E não dá trabalho depois que o processo vira hábito na cozinha. Eu faço uma só compra de folhas e vegetais por semana, na feirinha orgânica, separo e lavo tudo de uma vez, deixo escorrer bem e guardo na geladeira em tupperwares grandes, forrados com papel toalha e bem fechados. Depois, é só fazer as combinações e temperar a quantidade desejada. A salada fica fresquinha por vários dias. E todos os dias. Porque aqui, todo dia tem salada.