Acordei às 3:40h e precisamente às 4:22h estava com as malas no carro, 1 café e 2 biscoitos no estômago, pronta para enfrentar a saga da volta do litoral pós-feriados, sem saber quantas horas de direção me aguardavam. O Sol, obviamente, não tinha aparecido e nem ia aparecer, pois, para deixar tudo mais animado, havia três dias, caía uma insistente tempestade de proporções bíblicas. Pelo menos a noite de Ano Novo foi linda e eu pulei as sete ondinhas no mar, e não na enxurrada da calçada, colocando as bagagens no carro, como hoje, às 4 da manhã.
Mas eu estava de bom humor, a situação era meio engraçada. O perrengue pode ser muito cômico. E ele tinha feito café, o que muda tudo. Não sei fazer café, tenho preguiça, tenho que fazer contas, não me divirto. Gosto que façam café para mim. Gosto de sentir o cheiro inesperado do café feito por alguém, invadindo o quarto quando ainda estou de pijama. É a mesma diferença de prazer entre colocar uma música que amamos ou ouvi-la no rádio, sem aviso.
O segundo café foi menos romântico, na lanchonete do fim da estrada, em meio ao ataque zumbi tropical, com pessoas sonolentas metidas em camisetas de surf e bermudas floridas, lutando por pães de queijo, xícaras de café com leite, coxinhas gordurosas e até pães com linguiça e queijo derretido. Acho que existe um perdão calórico para quem acorda antes das 4 e vai tomar café só às 6h. Todo mundo se sente merecedor da melhor indulgência gastronômica que o contexto permite. Eu pedi um misto-quente no pão francês, que foi comido como despedida de uma série de eventos permeados pela ingestão desmedida de prazeres.
O ano termina e começa com exageros, e eles são sempre associados a celebrações, festas, alegrias, êxtase. Momentos nos quais não queremos nos comportar, comer só o suficiente, contar as taças de vinho. Não queremos que aquelas horas passem, que aquele nascer do Sol acabe com a festa, que a sabedoria da saciedade nos impeça de comer a décima oitava cereja na noite de Natal (foram 19), ou que o bom senso nos faça deixar fechada a quarta garrafa de espumante no réveillon na praia. Eu mesma tenho dificuldade de pular só sete ondinhas. Coisa mais sem graça. Queria três séries de quinze. Pular sete ondinhas segurando o vestido branco com uma garrafa na mão é mais divertido que fazer abdominais. A conta deveria ser invertida. Sete abdominais deviam ser suficientes. Mas não serão. Não depois dos excessos.
Cheguei em casa com vontade de comer direito, de sentir prazer com os pequenos e simples sabores. Fiz arroz integral, cenoura refogada, salada de folhas, pão integral com nozes, sopa de lentilha. Acho que vou ficar uns bons dias sem tomar vinho (note que, aqui, é melhor não fazer promessas muito drásticas).
Gosto deste equilíbrio, da vontade que dá de começar o ano fazendo tudo certo, cheia de energia e força. E isso só se consegue depois de fazer bastante coisa errada. E está tudo bem.
Feliz 2016!