Não costumo ter dor de cabeça, pelo menos não literalmente. “Dores-de-cabeça”, tenho muitas. Mas hoje, uma pequena e insistente dorzinha se instalou. Talvez por eu ter ficado muitas horas trabalhando na frente do monitor, pelos prazos corridos, pela faxineira que mal voltou e já me deu um monte de notícias chatas (acabou a cândida, o sabão em pó, a máquina de lavar parou de funcionar, a mancha do vestido não saiu) ou pela filha de férias macaqueando pela casa e produzindo um constante (e alto) ruído em segundo plano. O fato é que, hoje, eu estou meio azeda. E, portanto, sem muita vontade de aventuras culinárias.
Decidi fazer uma canja. Afinal, a canja é um prato que tem fama mundial de curar, de fazer as pessoas se sentirem melhores, mais bem dispostas e leves. Além disso, hoje está fazendo um friozinho providencial e preciso de poucos ingredientes, que já tenho em casa: azeite, cebola, alho, um peito de frango com osso, cenoura, ervilha, arroz, sal, pimenta e uma folhinha de louro. (Qualquer dia desses, quando o azedume passar, escrevo a receita direitinho.)
A canja é mesmo bem prática e evita até dor-de-cabeça para o cozinheiro. Doura o frango, a cebola e alho, coloca a cenoura picada, a água e o sal, e deixa lá. Depois tira e desfia o frango, volta para a panela, junta o arroz e a ervilha, espera cozinhar. Voilà! Facinho, sem erro, sem susto. Mesmo com a filha pendurada no tornozelo. Não é à toa que era usada a expressão “é canja!” para designar uma tarefa fácil. Porque de problemas, hoje, eu já estou satisfeita.
Vamos ver se a dor de cabeça vai melhorar. Por via das dúvidas, vou tomar a minha canja só quando o barulho do mundo diminuir, depois que a pequena estiver na cama, dormindo bem quietinha, depois que o computador estiver desligado, depois que a faxineira for embora. Acho que o efeito medicinal vai ser melhor.